Adeus, mulher reborn (Redenção das Musas 1)

 In essays, feminism, maternity, Musas, patriarchy

Em tempos remotos ainda ontem, empregavam-se bonecas de plástico infláveis brancas com lábios na cor vermelha em forma de círculo. Se servissem como cobaia para o homem treinar suas inabilidades perante o corpo feminino, evitariam que as mulheres se sentissem tão frequentemente como bonecas de plástico. O anticoncepcional endossa o potencial das mulheres de servirem à fertilidade constante e perpétua, imbrochável, dos homens. Talvez por isso não faça diferença no Brasil um homem esfaquear uma boneca de plástico até esvaziar ou arrastar de carro pelo asfalto uma mulher de carne depois de tê-la espancado.

“Apanhou porque mereceu”: as mulheres já não permitem tão facilmente que o namorado as ofenda dizendo que jamais estamparão a capa da Vogue, nem que abram suas pernas quando bem entendem. Agora o cara não pode nem corrigir as bobagens que elas costumam dizer, porque já vai ser ou acusado de “manterrupting” ou “manexplaining”. Nem a boca ele pode abrir se não quiser ser taxado de “macho palestrinha”. Se a mulher não deixa o cara falar (ou era o contrário?), não o deixa se expressar e gozar livremente onde e quando ele quiser, como há de nascer crianças reais de carne e osso, ó Santa Virgem Maria?

Elas nem querem mais ter filhos, cada vez mais egoístas pensando em si mesmas e em suas carreiras, enquanto se afastam de sua natureza, de sua biologia materna. Quando parem, só por cesárea, porque não querem sentir dor, sofrer violência obstetrícia, ou porque o obstetra mentiu que o parto era de risco para viajar no feriadão da DPP, a Data Prevista de Parto. Elas também preferem a cesárea para não atrapalhar seu expediente, na expectativa de não fazerem parte dos 40% de mulheres demitidas logo após a licença maternidade de quatro meses. Conseguindo ou não conciliar emprego e cuidado do bebê e do lar em que vivem, mais da metade delas desaparece do mercado de trabalho até dois anos depois do parto.

As mães também não aceitam ajuda através dos palpites que todo mundo tem pra dar, até quem nunca teve filho: se devem amamentar, ou se deve dar fórmula porque seu leite é fraco, até quando devem amamentar, se só nos primeiros meses pra não acostumar mal a criança ou até os três anos de idade pra garantir sua imunidade e “afinal é tão gostoso, eu só amamentei três meses, mas você deveria amamentar o tempo máximo possível, porque esse tempo não volta mais e a gente se arrepende depois”. Se devem colocar na creche ou desistir pra sempre da própria vida cuidando sozinha da criança porque foi exatamente isso, (ou foi exatamente o contrário e ela se ressente), que fizeram suas mães.

As mães delas se dizem muito orgulhosas das decisões que tomaram, exibem as fotos e os diplomas das filhas e netas, enquanto escorraçam as decisões das filhas, que não se dedicam suficientemente aos filhos; não se dedicam suficientemente ao marido, não se dedicam suficientemente à casa, não se dedicam suficientemente à carreira, não se dedicam suficientemente à sua saúde, não se dedicam suficientemente à intelectualidade e à nobreza de espírito. Exatamente, ou talvez um pouco consciente e melhor, ou traumatizada e pior, como fizeram suas mães.

Apesar de tudo, o desejo irracional, desmedido, antieconômico, despreocupado com a superpopulação e o aquecimento globais, de ter um bebê, e de manter um relacionamento heterossexual, ainda acomete algumas mulheres. Deve ser algum defeito de fabricação ou genético, ou ancestral, ou patriarcal. Por isso, para quem não curte pets, nada mais sensato e sábio que adotar um bebê de borracha.

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