Risco de cantar
Um pedaço da gente
Espalhado na mesa
Cansado de cachaça
Bêbado de batente
Perdido no espaço
Me encontro com ele
Me vejo em seu rosto
Lhe ouço cantar
Um canto tão rouco
Que espreme e desfaz
Acata meu corpo
Desprende meu ar
Se sigo sua linha
Encontro meu ré
Solfejo o caminho
Que leva ao sopé
As notas se anotam
Se juntam em cantos
Esquinas sonoras
Ou becos sem codas
Musico minha perda
Minha perda perdida
Minha perda empedrada
Em mármore branco
Rabisco no branco
Já sem virgindade
Já cheio de notas
Mas sem harmonia
O risco sai torto
Não sei apagá-lo
Só posso entoá-lo
Com voz de tenor
Que grave esse risco
Tão fundo em minha alma
Inscrito em minha vida
Transcrito em poesia
Desenho uma pauta
Transformo a canção
Afino as cordas
De cor, coração
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