Abandono-me
Abandono-me
Em cada impulso que emudeço
Pensando que minha natureza mudo.
A cada queria, gostaria,
Cada subjuntivo que nunca sujeito,
Cada vontade própria a que não me sujeito;
Ao não me submeter a mim, meu desejo,
Rejeitando a consequência de ser.
Abandono-me ao ter medo,
Ao ficar à mercê (à bandon),
Ao tornar crise minha crítica
Em vez de criação,
Em vez de cristal,
Tornando-me carvão.
Abandono-me ao não ser eu mesma,
Ao não erguer a mão e minha posição,
Ao nada dizer para não realizar,
Ao não me abraçar ao me arrepender.
Abandono-me ao me despir
Da roupa que queria vestir,
Dos fios grisalhos e hirsutos,
Dos sonhos mais absurdos.
Abandono-me no esforço
De não ser abandonada,
Ainda que abonada
De mim.
Apenas eu posso me abandonar.
Apenas eu posso nunca me abandonar.
Arrasou! O desenho está M A R A V I L H OSO