Abandono-me

 In poetry

Abandono-me

Em cada impulso que emudeço

Pensando que minha natureza mudo.

A cada queria, gostaria,

Cada subjuntivo que nunca sujeito,

Cada vontade própria a que não me sujeito;

Ao não me submeter a mim, meu desejo,

Rejeitando a consequência de ser.

 

Abandono-me ao ter medo,

Ao ficar à mercê (à bandon),

Ao tornar crise minha crítica

Em vez de criação,

Em vez de cristal,

Tornando-me carvão.

 

Abandono-me ao não ser eu mesma,

Ao não erguer a mão e minha posição,

Ao nada dizer para não realizar,

Ao não me abraçar ao me arrepender.

 

Abandono-me ao me despir

Da roupa que queria vestir,

Dos fios grisalhos e hirsutos,

Dos sonhos mais absurdos.

 

Abandono-me no esforço

De não ser abandonada,

Ainda que abonada

De mim.

 

 

 

Apenas eu posso me abandonar.

Apenas eu posso nunca me abandonar.

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Comments
  • Perla
    Reply

    Arrasou! O desenho está M A R A V I L H OSO

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