Muito Romântico

Romântico aquele que sonha. Muito romântico aquele que vai atrás de seus sonhos. Mais romântico ainda quem persiste no sonho, mostrando aos céticos que nada tinha de ingenuidade e teimosia, mas tão somente amor. Demasiado romântico quem, realizando seu sonho, inspira a sonhar.

Por trás de toda arte vivem vários sonhos, e morrem tantos outros. Cada fracasso, cada porta fechada, cada folha rasgada, uma frustração. Frustração que vira frutos: pomar de novas ideias jamais imaginadas. O muito romântico vê beleza onde outros veem vazio; enxerga possibilidades onde outros desistem para sempre.

O muito romântico arrisca; perde quantias de horas, contatos, dinheiro, para ganhtar – mágica – qualidade de tempo, amigos e riqueza. O muito romântico cruza o atlântico de barco para cruzar o atlântico de barco; não para chegar do outro lado. O muito romântico passa nove anos fabricando uma obra de arte para fabricar uma obra de arte, não para vê-la exposta e vendê-la.

Amor e romantismo são apenas exagerados para quem tem medo de arriscar, ir atrás, de se expor, ser julgado, incompreendido e abandonado na sarjeta. Para quem impõe limites à própria vida, aos próprios sonhos e ao próprio amor. Por medo da dor, por medo do mar; por medo da incomensurabilidade da própria existência.

Nossa finita existência não tem sentido nenhum; só anda no sentido da morte. Mas o muito romântico não se dá por satisfeito: entra no barco, enfrenta o buraco negro da incerteza do mar, do tempo, do vazio, para simplesmente navegar. Para desbravar novos portos e atracar lá por dias, meses, anos, vidas. Para um dia retornar ao seu próprio Porto já grisalho – cabelo e céu.

O muito romântico se descarrega de âncoras para flutuar com leveza sobre a incerteza de ser.

* Imagem retirada do cartaz do filme “Muito Romântico” do duo Distruktur.