Bem-estar, mal-estar, não-estar
Qual é o assunto e a pessoa do momento no Twitter, no Youtube, no Instagram? Todo dia a mesma coisa: muda o hashtag, muda o influenciador digital, mas nunca é você. Você abre conta no Linkedin, conecta-se com mil redes sociais, compartilha seus momentos no Facebook, conversa com diversos grupos no Whatsapp, muda suas fotos de perfil, e nelas nunca consta você. Você instala diversos apps de relacionamento, coloca suas fotos mais bonitas no Tinder, escreve uma descrição quase epitáfio, dá match com vários potenciais parceiros, e quando os encontra descobre que você e eles eram, pasme, seres humanos. A pessoa que o seu match enxergou nas fotos e mensagens não era você.
Onde você está?
Você viaja pelo mundo afora, posta selfies na beira da praia, no alto da montanha, em frente às pirâmides. Toda sua rede social vê e curte você ali, só você não se vê nem se curte, pois esqueceu de estar ali.
Como você está?
Pesquisas imaginárias comprovam que cada curtida recebida proporciona segundos de bem-estar, e que cada segundo sem nenhuma curtida ou mensagem multiplica-se em horas de mal-estar. Horas em que pulsa o vazio: ninguém nas redes sociais reagiu hoje à sua existência, terá ela algum valor?
Não se preocupe com isso, pois você já não existe; o que existe é o seu smartphone. Ele guarda todos os seus segredos, suas amizades, seus compromissos, suas lembranças. Sair sem ele é sair sem carteira de identidade, sem chave de casa, sem carteira e sem memória. A tecnologia te engoliu, digeriu, e regurgitou essa carcaça: um corpo e um rosto que, ao passar por um espelho de vidro, não têm muito em comum com o do display touchscreen. Restou um corpo e um rosto que já não são você.
Quando você está?
Checamos o facebook na pausa do almoço, levamos o smartphone para nos distrair no banheiro, lemos mensagens no Whatsapp enquanto tomamos café com um amigo. A internet nos permite estar o tempo todo em todos os lugares, transcendendo distâncias e a própria finitude. Viramos globais e eternos; onipresentes. O único momento em que não estamos presentes é agora; o único lugar em que não estamos é aqui. Aqui e agora, onde esse nosso corpo e rosto irreconhecíveis insistem em existir e envelhecer. Insistem em lembrar que você e outros seres humanos estão no mundo real e que nenhum deles, nem você, é ideal.
Até quando você está?
Talvez por isso muitas casas tenham um cômodo reservado para o que nos falta: a sala de estar. Desligando seu Wi-Fi e banda larga, lá você pode ter a experiência única de estar; de se encontrar com sua carcaça e se descobrir real. Descobrir que esse é seu valor mais precioso; estar, existir, no mundo real. Descobrir que, nesse mundo meio fora de moda, você está bombando e viralizando desde o seu nascimento. Afinal, enquanto seu perfil no Facebook, no Twitter ou no Instagram pode durar pela eternidade, a única coisa que você pode ter certeza de um dia perder para sempre é você mesmo.
Bacana a ideia de postar a identidade. Texto ótimo.Essa menina vai longe