Tons de machete
Restituição de toques de viola machete tocados por João de Deus
© Tiago de Oliveira Pinto 1987
Este projeto disponibiliza vídeos de 1987 de João de Deus, de Santo Amaro da Purificação (BA), tocando cinco tons de machete do samba de viola e do samba chula. O material foi registrado por Tiago de Oliveira Pinto durante suas pesquisas no Reconcâvo da Bahia entre 1982 e 1988, na casa do próprio João de Deus, também conhecido por João da Viola, que em 1988 viria a falecer aos 70 anos de idade.
Cada “Tom” corresponde a um toque – um padrão rítmico-melódico de execução da pequena viola machete, e recebe o nome de uma tonalidade: “Ré Maior”, “Sol Maior”, “Dó Maior”, “Lá Maior” e “Mi Maior”. Cada toque tem de duas a quatro partes diferentes, encadeadas de maneira livre. Grande parte dos toques documentados em 1987 encontra-se extinta da prática atual do samba da região.
O registro, feito em colaboração com Max Peter Baumann, foi configurado de maneira a beneficiar a escuta e a observação da viola machete, acompanhada de pandeiro e atabaque, facilitando, assim, a possibilidade de sua aprendizagem direta. O projeto, coordenado pela pesquisadora Nina Graeff, tem como principal objetivo a recuperação da prática dos cinco toques de machete registrados, isto é, sua aprendizagem principalmente por parte dos sambadores da região, mas também por demais músicos interessados no instrumento e no samba de roda.
Acesse os vídeos originais e editados para aprendizagem autoditática registrando-se aqui.
Pesquisa de Campo
Em agosto-setembro de 2019 e em janeiro de 2020 foi realizada pesquisa de campo com mestres do samba chula a fim de restituir a memória em torno dos vídeos de João da Viola. Cada encontro registrado, guiado sempre pela matriarca do samba de Santo Amaro, dona Nicinha do Samba, foi uma “encruzilhada sensível”, na qual os participantes compartilharam não apenas suas memórias sobre o samba antigo, mas interagiram com os vídeos cantando chulas, acompanhando os toques de João da Viola no violão e na viola machete, trazendo à tona saberes sensíveis, inefáveis, guardados no corpo.
Os vídeos estão sendo editados e publicados no canal de YouTube dos mestres/grupos, quando disponíveis, e no de Nina Graeff.
Mestres participantes
Mestre Aurino de Maracangalha; Mestre Celino e Alexnaldo Santos (Terra Nova); seu Lídio, Jurandir e Naldinho (Acupe); Mestre Domingos Preto e seu Domingos (Santiago do Iguape); Mestre João do Boi (São Braz); Roberto Mendes (Santo Amaro); Mestre Zeca Afonso, Djalma, Milton Primo, dona Lindaura e dona Neuza (São Francisco do Conde).
Equipe
Nina Graeff, Caio Csermak, Mário Lamparelli, Nicinha do Samba, Mestre Ecinho.
Parceiros e colaboradores
Samba Mirim Filhos da Pitanga, Adson Sant’anna e Enoque Andrade (São Francisco do Conde-BA); Luís Armando, lutheria Trevo (Pouso Alegre-MG); Rodrigo Minhoca e Casa Mestre Ananias (São Paulo); Júnio Lamparelli (São Paulo); SESC-CPF (São Paulo); Chico Saraiva (São Paulo); Ivan Vilela (São Paulo); Jorge Castro Ribeiro e Susana Sardo (Aveiro, Portugal).
Bibliografia sobre a viola machete
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ASSEBA. 2011. Oficinas de Viola Machete. Link
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DÖHRING, Katharina; NOBRE, Cássio. A Cartilha do Samba Chula. Salvador: Umbigada 2016.
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GRAEFF, Nina; PINTO, Tiago de Oliveira. 2012. „Música entre materialidade e imaterialidade: os tons-de-machete do Recôncavo Baiano / Music between Tangibility and Intangibility: the tons-de-machete from Recôncavo Bahiano”, in:Revista MOUSEION 11/1 (Jan-Apr. 2012). Link
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GRAEFF, Nina. 2015. Os Ritmos da Roda. Tradição e Transformação no Samba de Roda. Salvador: EDUFBA. Link
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NOBRE, Cássio. “Viola nos Sambas do Recôncavo Baiano”, in: Pacific Review of Ethnomusicology 14 (2019). Link
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NOBRE, Cássio. “Samba de viola machete: considerações sobre tradição e transformação no Samba de Roda do Recôncavo Baiano”. In: MOURA, Carlos Alves (Org.). Diversidade cultural afro-brasileira: ensaios e reflexões. Brasília: Fundação Palmares, 2012. Link
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WADDEY, Ralph. “Viola de Samba e Samba de Viola no Recôncavo Baiano” In: Dossiê do Samba de Roda do Recôncavo Baiano, editado por IPHAN (2006). 102-153. Link
Agência de financiamento:
Apoio: