Quando ele volta?  

 In essays, self-improvement

Entre esperança, expectativa e ilusão há grandes diferenças. Eu não sei quais são; o Google não colaborou com minha busca. Queria mesmo saber se, e quando, ele volta. Na falta de vidência, queria entender a diferença entre saber se e saber quando ele volta. O Google não tem todas as respostas. Ninguém tem. Só resta a esperança de que, mesmo sem resposta, tudo acabará bem.

A expectativa fica esperando, antecipando, uma resposta previamente estabelecida. Ele volta, só não se sabe quando. Pode demorar três dias ou trinta anos. Tudo bem, porque até lá, muitas águas terão rolado e, quando se vê, o sentimento já passou. Só que no dia seguinte, ainda não passou. Nem no outro. E naqueles três dias se perdem trinta anos de vida: a expectativa está a fadada a crescer e explodir. Ela é um balão vazio e rigidamente fixo da imaginação; uma forma inventada a partir de memórias distorcidas do que nos fez bem. A cada dia que essa forma não se torna realidade, o balão estoura. A depender do nível de ansiedade e apego ao balão, ele pode estourar a cada minuto na falta da resposta esperada.

A ilusão engana os sentidos. A realidade diz uma coisa e os sentidos alteram-na. Ele não se foi. Apenas foi comprar cigarros na esquina. Enganou-se de endereço e já volta. Teve que ir mais longe, pois o mercado estava fechado. Ele precisa caminhar mais longe, precisa de tempo, para poder voltar. A ilusão ao menos é criativa; traz iluminação. Inventa várias possibilidades, flexibiliza-se, pois tem certeza de que ele vai voltar. É capaz de mudar tudo dentro de si, arrumar a casa inteira, perfumar-se, tentar coisas novas, pois não há dúvida de que tudo terá valido a pena, assim que ele voltar. Fecha-se para quem contraria sua certeza; cego é o outro, incapaz de vislumbrar a verdadeira resposta.

Não há respostas prontas para a vida. Talvez por isso teimemos em inventá-las e apegar-nos a nossas invenções. Somos capazes de viver enclausurados no nosso mundo de respostas inventadas. Podemos jurar-nos de pés juntos que não precisamos de ninguém, que não precisamos nem de felicidade, nem de prazer. Podemos convencer-nos por A mais B de que alguém que só nos faz bem poderia, justamente por fazer tão bem, acabar fazendo muito mal. Podemos acreditar de olhos atados que não merecemos nem felicidade, nem prazer, nem ninguém. Agarramo-nos à ilusão de sermos ilha; uma ilha de autossuficiência que nada pode abalar nem alcançar com barco algum. Só que um dia chega o tsunami. Um tsunami de emoções incontroláveis, pois nunca antes navegadas.

O tsunami é a resposta contrária à esperada. A ilha era tão pacífica; ninguém esperava que pudesse inundar um dia. Ninguém esperava que ele se fosse. Como tratamento de choque, vem primeiro a angustiada expectativa, que antecipa que as águas retomarão o seu curso normal: mais cedo ou mais tarde, ele volta. Vai ficando tarde, as águas cada vez mais distantes, a ansiedade recua. Permanece a ilusão de que eram águas resplandecentes, e por isso hão de voltar, mas sem pressa. Vão e tomem o seu curso dolorido, mas necessário, para que voltem a resplandecer novamente na hora certa.

A expectativa e a ilusão são dependentes da resposta pré-estabelecida. A primeira é mais viciada, obsessiva, agoniada; a segunda é apenas carente. Ambas são escravas da certeza de que aquilo que se espera, aliás, aquilo que se viveu anteriormente, é o melhor, foi o melhor, e há de ser o melhor para todo o sempre, amém. Não é só a resposta que é pré-estabelecida, mas seu insuperável nível de qualidade e bem-estar, que certamente nos faz tão bem, tão felizes, que estamos aqui sentados nos lamentando e sofrendo na sua ausência.

A esperança é livre.

Já a esperança é livre. Mesmo sem resposta, ou com resposta contrária, ela sabe que tudo vai acabar bem. Ele não está; ele não vai voltar. Que alívio. Melhor lidar com a realidade: no início é duro, mas logo percebemos que o que se busca não é uma resposta para a dor, para a decepção e para a desilusão. Buscamos, sim, libertar-nos do sofrimento que acometemos a nós mesmos ao acreditar que o que aconteceu no passado e o que acontecerá no futuro é melhor do que o tempo presente. A esperança é livre pois não espera. Pois sabe que hoje é o único e irreversível momento de plantio. A esperança sabe que o presente é tudo, e por isso o melhor, que temos.

Presenteie-se.

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